Conscientes de que o próximo Conselho Directivo, a ser eleito em Março de 2022, irá conduzir o Clube até 2026, ano decisivo para para o futuro do Sporting Clube de Portugal, apontámos, desde a primeira hora, a Gestão Financeira como um dos pilares do nosso projecto.
A sustentabilidade e o futuro do Clube estão ligados à reestruturação do passivo e à (re)compra dos VMOC. Este tema é central para a vida do Sporting e é o principal problema que o nosso Clube enfrenta, sendo de lamentar a forma quase despreocupada com que foi abordada pelo actual presidente do Sporting, no debate de dia 23 de Fevereiro.
Nesse mesmo debate, quando confrontado com o duplicar das dívidas a fornecedores, Frederico Varandas escusou-se a responder, refugiando-se num silêncio que tem sido imagem de marca sempre que se lhe pede transparência para com os Sócios.
Ora, o Relatório e Contas agora tornado público, referente ao primeiro semestre do exercício 2021/2022, veio dar a resposta que o actual presidente do Sporting não deu: a dívida a fornecedores que, em 2018, se cifrava nos 40M, caminha, hoje, para os 90M, sem que exista um sinal de estratégia para estancar esta escalada.
Grave é, também, a constatação que o incumprimento para com os bancos que nos apoiam é de 16M e que o prazo para regularizar esse mesmo incumprimento terminou em 31 de Dezembro de 2021.
Partindo do princípio que, tal como ficou no ar ao longo do debate, este incumprimento não preocupa a actual direcção, é fundamental que os Sportinguistas percebam o que nos espera ao longo de 2022, ano em que teremos que pagar: 35M a agentes, 24M a clubes e 50M relativos a dois financiamentos que vencem em Junho e em Dezembro. Se a estes números juntarmos o exercer de opção por Pedro Porro e Ruben Vinagre, que, em conjunto, rondará os 18M, e ainda os já comunicados 7’5M referentes a Edwards, constatamos que o Sporting Clube de Portugal precisa de muito dinheiro para pagar o que deve.
Tentando não nos alongarmos em demasia e em jeito de resumo, este R&C mostra que, no Balanço, temos um Ativo Total que subiu de 269’2M para 285’8M (+5,8%), um Passivo Total que subiu de 310’6M para 317’8M (+2,3%), ao contrário do afirmado por Frederico Varandas durante o debate, e prontamente desmentido por Nuno Sousa, e o Capital Próprio que melhorou de -41’4M para -32M, mas que continua a deixar a Sporting SAD em Falência Técnica.
Alguns considerandos importantes relativos ao balanço no geral:
- O Ativo Total melhorou, muito por força do aumento de caixa e seus equivalentes derivado maioritariamente dos prémios da UEFA (+43M), do novo empréstimo obrigacionista (+40M) e da antecipação de receitas de TV (+23M), descontando, naturalmente, os pagamentos com financiamentos anteriores de -51’7M (empréstimo obrigacionista anterior e outros), pagamentos a pessoal (-22’8M), fornecedores (-18M) e Estado (-15M);
- De notar que, à exceção dos valores recebidos da UEFA, os valores em caixa foram obtidos através de financiamentos externos onde essencialmente se pagaram as dívidas de curto prazo gerando dívidas de médio/longo prazo – como aliás se viu na redução do Passivo Corrente e aumento do Passivo não corrente;
- O Capital Próprio melhorou fruto do Resultado Positivo do exercício, mas continua negativo, o que nos mantém no cenário de Falência Técnica pois, na teoria, os bens e direitos da Sporting SAD não são suficientes para fazer cumprir todas as suas obrigações, ou seja, os passivos são superiores aos ativos;
- A autonomia financeira atual é negativa, fruto dos Capitais Próprios negativos;
- O Fundo de Maneio (Working Capital) atual é de -129’5M (!) calculado através do Ativo Corrente (de curto prazo) subtraindo o Passivo Corrente (de curto prazo). No fundo é o mesmo que dizer que mesmo que a Sporting SAD convertesse o seu Ativo Corrente em cash (dinheiro) ainda ficaria a dever perto de 130M€ a liquidar até 31.12.2022;
- O Fundo de Maneio deste exercício melhorou face ao anterior (a 30.06.2021 era de -155M€), muito pelo explicado acima, ou seja, aumento do Ativo feito através dos financiamentos recebidos e da conversão de dívida de curto prazo em dívida de médio/longo prazo – um encapuzar, portanto, da melhoria tão propalada.
Obviamente que consideramos positivo o facto da Sporting SAD ter obtido um lucro de 9,52M de euros, no primeiro semestre do exercício 2021/2022, embora saibamos que muitos dos proveitos não se repetirão no 2º semestre, mas jamais poderemos ficar descansados quando o outro lado desse lucro nos coloca perante um cenário tão cinzento-chumbo;
Menos descansados ficamos, ainda, quando quem dirige os destinos do Sporting Clube de Portugal se escusa a esclarecer as dúvidas dos Sócios e resume as explicações sobre qual o plano para inverter estes números a um “está a ser tratado”.
Resta saber de que forma, pois “o caminho faz-se caminhando” inscrito no seu programa não é estratégia aceitável a quem se candidata a um cargo tão importante.
A transparência não se anuncia, pratica-se!
#PeloMeuSporting