Saiu a convocatória para uma Assembleia Geral para votar o aumento da remuneração fixa dos órgãos sociais da Sporting Clube de Portugal – Futebol, SAD
Apesar do forte investimento esta é uma época para esquecer
A época atual, no que ao futebol diz respeito, está a gerar “azia” para a generalidade dos adeptos da equipa do Sporting. Apesar da contratação de jogadores com um custo avultado como Porro (em definitivo), St Juste, Trincão ou Rúben Vinagre, a saída de jogadores fulcrais da época 2020/2021 como Sarabia, Feddal, Palhinha, Tabata, e de Matheus Nunes (na véspera de um jogo importante com o Fc Porto e que tão insatisfeito deixou Ruben Amorim, assim como a não contratação do tão desejado ponta de lança foram fatores chave que levaram a uma época desportiva de insucesso.
Um aumento de 32% para Frederico Varandas
Depois de falhados todos os objetivos propostos, nomeadamente a possibilidade de atingir a 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões na época 2023/2024 (para dessa forma obter receitas esperadas de cerca de 30 milhões de euros), a hipótese de vencer a Liga Europa era o último objetivo da presente temporada. Com a (injusta) eliminação contra a Juventus, a época futebolística acabou assim precocemente.
No meio desta “azia”, a 21 de abril de 2023, a administração do Sporting SAD enviou um comunicado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), anunciando uma Assembleia Geral extraordinária de acionistas a acontecer a 16 de maio de 2023, onde seria proposto um aumento da remuneração fixa dos órgãos sociais da Sporting Clube de Portugal–Futebol, SAD, incluindo do seu presidente.
Assim foi proposto um aumento do salário fixo do presidente da Sporting SAD, dos atuais 182 mil euros para 240 mil euros (+ 32%), e no caso dos vice-presidentes um aumento dos atuais 131 mil euros para 190 mil euros (+45%).
Esta proposta é baseada num estudo realizado pela consultora Korn Ferry, no qual se conclui que a remuneração do presidente do Conselho de Administração está 11,4% abaixo da mediana do mercado.
É importante referir que com o aumento da remuneração prevista, o salário do presidente do Conselho de Administração passará a estar bem acima da mediana do mercado.
Apesar de ser identificado que, no caso dos restantes membros do conselho executivo a remuneração está em linha com cargos semelhantes, a administração da SAD propõe um aumento salarial para ambos por uma lógica de equidade interna ou ainda devido à “exposição mediática, desgaste da imagem pessoal e até risco para a integridade física, nomeadamente em certas deslocações”.
Uma das críticas a apontar para o referido estudo é considerar-se que a “indústria do futebol” tem as mesmas especificidades face à generalidade das empresas pertencentes ao PSI20. Para a indústria em questão, o referido estudo apenas compara com os principais rivais (SL Benfica, FC Porto e SC Braga), tratando-se assim de uma amostra claramente insuficiente.
Adicionalmente, outra proposta a apresentar na AG extraordinária é que os administradores não executivos passem a auferir uma remuneração fixa no valor de 7 mil euros, à semelhança do que acontecerá com o presidente do Conselho Fiscal. Lembre-se que, até hoje, os membros destes órgãos sociais não eram remunerados.
De acordo com o referido estudo, tanto o FC Porto como o SL Benfica não remuneram os membros destes órgãos sociais, ou seja, mais uma vantagem comparativa para os órgãos sociais do Sporting.
E maior enfraquecimento do plantel a caminho
Ademais, o aumento da remuneração fixa dos órgãos sociais da Sporting SAD vai ocorrer num contexto em que, devido ao insucesso desportivo da época atual, uma importante percentagem da receita para o próximo ano (receitas da UEFA) não será obtida.
Por essa via, a administração da Sporting SAD irá previsivelmente delapidar ainda mais o plantel atual da equipa de futebol. Os primeiros indícios é de que Ugarte, um dos mais importantes jogadores, já estará vendido. Assim, o fosso competitivo face aos principais rivais tenderá a agravar-se.
E os restantes funcionários da SAD? Levam nada?
Por último, é no mínimo curioso que os aumentos de remuneração só ocorram ao nível dos órgãos sociais e não na generalidade dos trabalhadores da Sporting SAD. Uma das principais razões para justificar a decadência competitiva da formação do Sporting pode ter origem no desfasamento salarial e das condições de trabalho na Sporting SAD face aos seus principais rivais. Para este efeito é importante referir que alguns importantes quadros da atual estrutura de formação do SL Benfica foram “roubados” ao Sporting (nomeadamente Pedro Mil-Homens ou Diogo Matos).
#PeloMeuSporting
João Alcobia, Sócio 64.801
Economista, especialista em Mercados Financeiros e Análise Económica, aluno de doutoramento no ISEG